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Sócio da Gehl Architects, David Sim prioriza a escala humana em seus projetos

19/09/13

Especialista em urbanismo e sócio da Gehl Architects, David Sim analisou os gargalos presentes nas grandes metrópoles, como São Paulo, que já ultrapassou a casa dos R$ 11 milhões. Para ele, é preciso dar mais tempo às pessoas que ficam várias horas por dias presas no trânsito.

Trabalhando no escritório que fez da cidade de Copenhague um modelo de urbanismo sustentável, Sim faz importantes reflexões sobre a necessidade de se pensar as cidades numa escala humana de forma a humanizar os espaços públicos.

O escocês foi um dos convidados da UPSA para o seminário “Planejando Qualidade de Vida: O Papel do Planejamento Urbano na criação de melhores cidades”, realizado em Brasília, no início deste mês. Ele também participou do 4º Green Building Brasil.

David Sim, durante o seminário "Planejando Qualidade de Vida" promovido pela UPSA no início do mês. Ao seu lado, Jorge Wilheim, um dos arquitetos brasileiros mais reconhecidos no cenário internacional.

David Sim, durante o seminário “Planejando Qualidade de Vida” promovido pela UPSA no início do mês. Ao seu lado, Jorge Wilheim, um dos arquitetos brasileiros mais reconhecidos no cenário internacional.

Confira alguns trechos da entrevista concedida ao portal Exame.com.

Quer melhorar São Paulo? Dê mais tempo às pessoas
Cidade pode ser próxima Nova York, mas sua população está presa no trânsito, diz David Sim, sócio do Gehl Architects, escritório que fez de Copenhague um modelo

EXAME.com – Como você define projetos baseados na humanização das cidades?

David Sim – Hoje em dia, há uma grande preocupação com se construir prédios sustentáveis e mais eficientes no consumo de energia. Mas nossa maior preocupação é o que acontece no espaço entre todos esses prédios verdes, que tipo de vida você tem nas cidades. Diferente de muitos arquitetos que estão apenas focados nos prédios como objetos, monumentos, nós queremos construir coisas que afetam a vida das pessoas.

Estamos interessados no dia-a-dia, em todas essas coisas meio banais e simples. Como se atravessa uma rua? Como você faz compras no supermercado? Como os filhos vão para a escola, como você vai ao trabalho? O que você faz na hora do almoço? Porque são todas essas coisas da vida cotidiana que compõem a nossa vida.

EXAME.com – Mobilidade é tema central nos grandes centros urbanos. Segundo estudo do IBGE, um morador de São Paulo perde pelo menos 17 dias preso no trânsito por ano. O que isso diz sobre a cidade?

David Sim – O transporte é um desafio aqui. São Paulo é provavelmente o dínamo da economia na América Latina e, quem sabe, na próxima geração, pode tornar-se a nova Nova York do mundo. O potencial que a cidade tem é imenso.

Porém, a maior parte da população está presa no trânsito. E isso pode ter grandes consequências, com empresas mudando para outros lugares, uma vez que seus empregados também não querem mais ficar na cidade, por sentirem que estão perdendo qualidade de vida.

Na verdade, acho que a palavra chave aqui é acessibilidade. Existem várias maneiras de ter acesso a um lugar, pode ser andando, pedalando ou através da combinação entre transporte público com outro meio. Muitas pessoas não querem pegar ônibus porque o ponto onde elas aguardam pelo ônibus ou onde elas descem é simplesmente horrendo.

EXAME.com – E também cansa ficar preso num ônibus lotado que mal sai do lugar…

David Sim – Exato, além disso, há a questão da perda de tempo, que é um negócio extremamente democrático. Seja você rico, ou pobre, more em São Paulo ou outro lugar, você tem apenas 24 horas. E basicamente, você pode dividir a sua vida em três terços. Você dorme um terço, se tiver sorte de desfrutar 8 horas de sono, e então você trabalha um grande terço, de no mínimo 8 horas.

Por fim resta apenas um terço para todo o resto, ir ao mercado, buscar os filhos na escola, ir a um curso, todas essas coisas práticas. E se você ficar preso num congestionamento por duas, três horas, isto é quase metade do tempo valioso que lhe resta. O tempo do qual você deveria desfrutar junto da sua família, dos seus amigos, com seu namorado ou esposa. Uma das coisas mais importantes e capazes de mudar a vida numa cidade é dar mais tempo para as pessoas.

EXAME.com – Que culpa tem o carro pela “imobilidade”?

David Sim – O modelo de se deslocar com veículos particulares, do transporte individualizado, é catastrófico, não funciona. Nunca funcionou em lugar nenhum. E não há o que fazer. Construir mais estradas, duplicar rodovias, nada disso vai fazer este modelo dar certo. Temos que encontrar outras soluções.

EXAME.com – E que outras soluções são essas? É difícil convencer alguém a trocar o carro pelo sufoco no transporte coletivo, não?

David Sim – Não podemos forçar as pessoas a mudar, mas temos que oferecer boas alternativas, que sejam convidativas. Não se trata de dizer “Você nunca poderá ter um carro” ou “Você tem que pegar ônibus”, e sim dar opções mais flexíveis e até econômicas entre um destino e outro.

EXAME.com – Você mencionou a questão da qualidade de vida. Qual relação é possível fazer em relação à mobilidade urbana e a saúde?

David Sim – A saúde é um dos maiores pesos no orçamento de um país. E muitas das maneiras como vivemos nossas vidas atualmente não são nada saudáveis. Cem anos atrás, a tuberculose e pestes eram os grandes problemas, hoje os assassinos são o câncer, as doenças de coração. E o que está causando isso? Passamos o dia presos nos carros, sentados no sofá em frente à televisão ou do computador.

EXAME.com – Então, como podemos mudar nosso estilo de vida e torná-lo mais saudável?

David Sim – Nós conversamos bastante com autoridades da área de saúde, médicos, enfermeiros, cirurgiões, e vemos que todos eles concordam com o seguinte plano base para uma vida saudável: ar puro, exercício físico e contato com as pessoas.

Confira a entrevista completa no Portal Exame.

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